quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A viagem começa em Paris

O elevador Otis que sobe o pilar sul da Torre Eiffel estava a transbordar de turistas. Dentro do atravancado ascensor, um austero homem de negócios de fato engomado olha para baixo, para o rapaz a seu lado.

- Estás pálido, filho. Devias ter ficado no chão.

- Eu estou bem… - respondeu o rapaz, lutando para controlar a ansiedade. - Saio no próximo piso. Não consigo respirar.

O homem inclinou-se mais. - Achei que nesta altura já terias conseguido ultrapassar isso. - Disse, afagando afectuosamente a face da criança.

O rapaz sentiu-se envergonhado por desapontar o pai, mas mal conseguia ouvir devido ao zumbido que sentia nos ouvidos. Não consigo respirar. Tenho de sair desta caixa!

O ascensorista estava a dizer qualquer coisa tranquilizadora sobre os pistões articulados do elevador e a sua construção de ferro pudelado. Muito abaixo deles, as ruas de Paris expandiam-se em todas as direcções. Estamos quase lá, disse o rapaz para si próprio, esticando o pescoço para olhar para a plataforma de saída. Aguenta.

Enquanto o elevador subia fortemente inclinado em direcção à varanda panorâmica superior, o poço começou a estreitar e as suas barras maciças a contraírem-se de modo a formarem um apertado túnel vertical.

- Pai, acho que não -

De repente, um estalido nítido ecoou por cima das cabeças deles. A cabina moveu-se abruptamente e ficou inclinada de forma estranha para um dos lados. Cabos partidos começaram a baloiçar em redor da cabina como cobras. O rapaz agarrou-se ao pai.

- Pai!

Os olhares deles encontraram-se durante um segundo aterrorizador.

Depois o chão caiu.

Robert Langdon endireitou-se de um salto no seu banco de pele macia, despertando do seu sonho semiconsciente. Estava sozinho na enorme cabina do Falcon 2000EX privado que abria caminho através da turbulência. Lá atrás, os dois motores Pratt & Whitney roncavam regularmente.

Excerto do I capítulo do livro O Símbolo Perdido, de Dan Brown, disponibilizado pela Bertrand a partir de 29 de Outubro.

Retirado daqui.


Disponível na Edisa.

domingo, 25 de outubro de 2009

O bordado das palavras

O tempo hoje deu-nos mais uma hora para lermos. E uma hora dá para acabarmos de ler aquele livro que nos tem prendido a si, para escolhermos o que se lhe segue, para pensarmos em palavras-chave, emoções que se repetem em nós colhidas nesta ou naquela página.

Uma hora dá para ler, como se os dedos passassem leves sobre um bordado macio, uma renda de linha sedosa e fina. Uma narrativa delicada, silenciosa, evocando poemas, a figura ténue de Laura visível a alguns, perturbadora para todos os outros. As malvas, as pinturas sobrepostas, palimpsestos numa tela, numa casa, numa história, a loucura que se despe, que envolve como tecido, manto ou véu.

Uma escolha feliz em que as palavras desenham, também elas, um bordado perfeito de bem escrever.

A nossa sugestão: Isabel Fraga (2007). A Desenhadora de Malvas. Porto: Asa Editores

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

i com Pessoa

Um perfil de palavras.
O bom gosto na escolha da apresentação da colecção.
No jornal i, a escrita de Pessoa.


Uma obra a acompanhar a cada semana.
Brevemente.


Dia 30 de Outubro: Mensagem.

domingo, 18 de outubro de 2009

O rosa inconfundível da música


Henry Mancini (1924-1994), compositor, pianista e autor de arranjos musicais, deixou-nos temas memoráveis como
Moon River ou aquela música elegante, absolutamente inconfundível, que denuncia a chegada de Pink Panther.

The Pink Phink (1964) é a primeira curta-metragem onde encontramos esta figura irreverente num trabalho que granjeou o Academy Award for Short Subjects, Animated Films.

O jornal Público traz-nos todos os Sábados, de 17 de Outubro a 19 de Dezembro uma colecção de 10 DVDs, contendo 124 episódios desta série de animação divertida.

Uma boa escolha semanal.



sábado, 17 de outubro de 2009

Jornalismo e ficção


"Quero acreditar que já não estarias em casa por alturas em que cheguei mas não sei dizer. A verdade é que não te procurei. Mais uma vez. Penso que fiz as coisas do costume, penso hoje quando penso nisso que fiz as coisas do costume, terei deixado o sobretudo ao acaso, abri o frigorífico fechei abri uma outra vez, sem saber bem o que procuro, acontece-me quase sempre. As coisas do costume. Vagueei sem saber bem, o sobretudo caído alguém há-de arrumar, tu tratas disso. Do frigorífico abro fecho abro outra vez, quero pouco, não sei que quero, deixei de beber prometi-te acho que te prometi, não sei que beba."

sábado, 10 de outubro de 2009

Prémio Nobel da Literatura 2009


Herta Müller, romancista, poeta e ensaísta de Língua Alemã, natural de Nitzkydorf, aldeia próxima de Timisoara na Roménia, foi galardoada com o Prémio Nobel da Literatura de 2009.

Da sua obra, dispomos já, em Portugal, de obras traduzidas como: A Terra das Ameixas Verdes (publicada pela Difel em 1999) e O Homem é um Grande Faisão Sobre a Terra (com publicação de 1993, da responsabilidade da Editora Cotovia).


No Brasil, encontramos, ainda, O Compromisso (disponibilizado pela Editora Globo).


A escolha de Herta Müller fica a dever-se,
no dizer do comité, ao facto de ser alguém

"who, with the concentration of poetry and the frankness of prose, depicts the landscape of the dispossessed".

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Na corte de Henrique VIII

Thomas Cromwell foi conselheiro de Henrique VIII no tempo dos Tudors, na década de 1520. Assistiu aos acontecimentos polémicos que viriam a provocar uma cisão entre o soberano e a Igreja, pondo em causa o sacramento do matrimónio.

Hilary Mantel investiu-o de protagonismo na sua obra Wolf Hall, que agora lhe valeu a obtenção do Man Booker Prize, na edição de 2009.

A autora nasceu a 6 de Julho de 1952, em Glossop, na região do Derbyshire, tendo, também, raízes na Irlanda. Estudou Direito e trabalhou como Assistente Social, viveu no Bostwana e na Arábia Saudita, regressou à Grã-Bretanha na década de 80. A escrita de Hilary, no domínio da ficção e da crítica, bem como do ensaio, tem merecido diversas distinções e nomeações, nomeadamente o Shiva Naipaul Memorial Prize (1987).

Aguardemos, pois, a publicação dos seus trabalhos em Língua Portuguesa.



domingo, 4 de outubro de 2009

Do Essex ao Nilo

Até ao dia 27 de Fevereiro, o jornal Correio da Manhã continua a trazer-nos, todos os Sábados, histórias de suspense e verdadeiros desafios policiais, entretecidos pela mestre Agatha Christie.

O Misterioso Caso de Styles (1916) narra-nos a primeira aventura de Hercule Poirot que, em conjunto com o seu amigo Capitão Hastings, a recuperar de um ferimento de guerra, no Essex, desvenda o caso enigmático do envenenamento da senhora Emily Inglethorpe.

Para a semana, prepare-se para ler
Morte no Nilo (1937), uma das obras emblemáticas da autora.



quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ao som do vento e das gargalhadas

Passada a última casa, começava a descida da serra. À medida que iam andando, a jogar a cabra – cega com as fragas, a aldeia, cada vez mais distante e cingida ao seu bioco de colmo, lembrava uma mãe abandonada. E alguém cantou:


Adeus, adeus, minha terra,

Berço da minha alegria,

Penaguião vem de pena,

Mariana de Maria


As raparigas deixavam vir à tona os encantos soterrados, os rapazes davam largas à inspiração, e os velhos iam pouco a pouco perdendo também o ar encardido, num renovo de esperança. Cada palmo percorrido era uma ruga a menos, na alma e no corpo.
[...] Em S. Martinho, primeira terra do Doiro, e por isso com um patrono vinhateiro, beberam. No eiró da terra formaram roda, o harmónio, o bombo e os ferrinhos acertaram a voz, e, saltando.

Miguel Torga, Vindima