quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ao som do vento e das gargalhadas

Passada a última casa, começava a descida da serra. À medida que iam andando, a jogar a cabra – cega com as fragas, a aldeia, cada vez mais distante e cingida ao seu bioco de colmo, lembrava uma mãe abandonada. E alguém cantou:


Adeus, adeus, minha terra,

Berço da minha alegria,

Penaguião vem de pena,

Mariana de Maria


As raparigas deixavam vir à tona os encantos soterrados, os rapazes davam largas à inspiração, e os velhos iam pouco a pouco perdendo também o ar encardido, num renovo de esperança. Cada palmo percorrido era uma ruga a menos, na alma e no corpo.
[...] Em S. Martinho, primeira terra do Doiro, e por isso com um patrono vinhateiro, beberam. No eiró da terra formaram roda, o harmónio, o bombo e os ferrinhos acertaram a voz, e, saltando.

Miguel Torga, Vindima

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