Recebeu diversas distinções pela sua escrita e a vida trouxe-o a este mundo numa terra incrustada para as bandas da raia de Espanha, onde os barrocos decoram a paisagem, assim como o pinheirame. Num lugar de destaque, ergue-se o castelo, encimado por cinco quinas, que o tornam único em Portugal. Manuel António Pina nasceu em 1943 na agora cidade do Sabugal, onde viveu até aos seis anos, tecendo recordações que, no seu dizer, vêm povoar os seus poemas.
A avó
Tinha ao colo o gato velho
cansadamente passando
a sua branca mão pelo
pêlo dele preto e brando
Sentada ao pé da janela
olhando a rua ou sonhando-a
todo o passado passando
a passos lentos por ela
Dormiam ambos enquanto
a tarde se ia acabando
o gato dormindo por fora
a avó dormindo por dentro
In Os Livros (2003)
Da terra diz:
Hoje, essa mesma terra presta-lhe homenagem numa tarde que se adivinha acolhedora, como a mãe que abraça o filho crescido, que acaba de regressar.A recordação mais antiga que tenho de mim mesmo (falei dela há tempos numa entrevista a uma revista da Galiza) é uma criança de dois ou três anos, de chapéu de palha na cabeça, ao pé de uma fonte, acho que uma fonte de mergulho, circular, num largo talvez em frente de minha casa. Outra criança tira-me o chapéu da cabeça e atira-o à água. Eu – acho que sou eu essa criança – exijo-lhe que o vá buscar e mo devolva. O outro miúdo não o faz, e afasta-se rindo. Então, cheio de orgulho ferido, eu regresso a casa.
A avó
Tinha ao colo o gato velho
cansadamente passando
a sua branca mão pelo
pêlo dele preto e brando
Sentada ao pé da janela
olhando a rua ou sonhando-a
todo o passado passando
a passos lentos por ela
Dormiam ambos enquanto
a tarde se ia acabando
o gato dormindo por fora
a avó dormindo por dentro
In Os Livros (2003)
Sem comentários:
Enviar um comentário